As fronteiras do acampamento são projetadas para manter os mortais, monstros, o mau tempo e muitas outras coisas fora do acampamento. Apenas campistas, sátiros, os deuses, alguns mortaise monstros que receberam a permissão de um campista podem entrar através da fronteira. Uma vez, a fronteira foi protegida por muitas coisas, o mais notável sendo um dragão de bronze construído pelo Chalé de Hefesto. Nos tempos modernos, é passiva - mas eficaz - defendido pela barreira mágica fortalecida pela árvore de Thalia, criada por seu pai, Zeus, quando ela estava prestes a morrer. Após a Batalha do Labirinto, Percy Jackson, Annabeth Chase, Charles Beckendorf e Silena Beauregard encontraram Myrmekos - antigas formigas gregas do tamanho de um terrier carregando a cabeça de um dragão de bronze mecânico. As marcas da cabeça de escavação no terreno revelou uma enorme cratera com o pescoço do dragão de bronze. Annabeth recolocou a cabeça do dragão e levou-o para ajudar a resgatar Beckendorf, que foi capturado pelas formigas. O dragão então se enfureceu, e Beckendorf trabalhou com Percy para desligá-lo. Em seguida, ele foi fixado por Leo Valdez em The Lost Hero e usado na missão para resgatar Hera de Porfirion, apesar de ter sido destruído na casa do rei Midas e a cabeça levada de volta ao Chalé 9, através de Hefesto.
Algumas pessoas são impermeáveis, capazes de passar por qualquer coisa sem absorver absolutamente nada. Isoladas, não absorviam, não deixavam absolutamente nada para trás, senão o resto de calor produzido pelos seus corpos e uns balões cheios de gás carbônico. Para estes a vida era, ou muito fácil, ou extremamente árdua; incapazes de abstraírem qualquer coisa, se colocavam em situações cada vez piores das quais não tinham qualquer capacidade de sair; incapazes de serem atingidos, sobreviviam apesar dos problemas sem sequer enxerga-los. Entretanto Allyria jamais poderia ser colocada como uma dessas; por mais frios que fossem seus olhos, por mais racionais que fossem seus pensamentos, ela simplesmente não podia se manter a mesma, e a cada muda de pele era um processo que sofria: a dor do enclausuramento, seguida pela liberdade de tomar novas decisões. Sua sobrevivência não era ligada à rigidez: era intimamente conectada à mutabilidade.
Mutável, diferente do sol, que sempre se erguia, sempre se punha, estava ali com a hipótese quase impensável de sua não existência. Uma bola de gás pairando sobre eles, ou as rodas de uma carruagem; se fosse um, poderia mudar, desafiar o status quo numa explosão repentina, atômica, em sua superfície flamejante, mas as coisas raramente se modificariam muito – natural ou divina, era simplesmente poderoso demais para ter suas funções muito alteradas. O sol era impermeável por mérito, mas o sol, como todo impermeável, era tolo em sua soberania; uma hora ou outra, a lua se colocaria entre sua luz e a terra, e, nesse segundo, seria absolutamente impotente.
A garota evitava, portanto, esses eclipses de sua consciência. Permanecia atenta ao seu redor pois, pela sorte, ou pelo azar, havia nascido assim, frágil, feita para se adaptar, e não para reinar soberana. Até então, nunca tinha desejado muito mais além do que possuía, porque era adaptável por natureza e por escolha: amava aprender. Entretanto, ao seu redor as coisas mudavam muito além de seu controle, num nível que adaptar parecia não ser o suficiente, pois sobreviver já não era suficiente.
De qualquer forma, ser absoluta e, portanto, impermeável, poderia ser uma boa ideia naqueles tempos. Tiraria um gigantesco peso de suas costas, certamente: poderia proteger os seus, poderia sobreviver aquela guerra aparentemente sem fim, quem sabe. Poderia, talvez, mudar ligeiramente seu destino, ou conhece-lo de maneira suficiente a cumpri-lo da melhor forma. E pensar tanto assim parecia capaz de enlouquecer, ela não queria enlouquecer. Quem sabe apenas uma dose para deixar aquilo de lado. Quem sabe pudesse enganar o destino e enlouquecer por livre e espontânea vontade antes que sua própria mente se voltasse contra ela.
A caminhada até a Frontreira do Acampamento fora curta e silenciosa. Notou que somente ela estava por ali, vagando. Sorriu, gostando do silêncio enquanto sentava-se na grama úmida.
Estava tudo escuro. Era um breu total. E eu por algum motivo gostava, porém tinha medo disso. Tentei caminhar, mas meus pés pareciam ter sido soldados no chão. Eu tentava me mover, mas meu corpo tinha consistência de concreto. Fechei os olhos e nada pareceu mudar. Minha respiração começou a ficar acelerada e com isso force-me a abrir os olhos ao máximo e foi então que a vi.
Era uma janela. Somente uma janela. A única parte iluminada daquele lugar. Apertei os olhos e a janela se tornou nítida. Chuva batia contra a janela. O som fazia minha ansiedade ir embora. Estava ficando calmo... Calmo de mais... Como se estivesse pegando no sono. Foi então que eu comecei a afundar. Pernas. Cintura. Tronco. Eu lutava para sair, mas quanto mais eu fazia isso mais eu afundava. Eu estava sufocando. Eu ia morrer.
{...}
Puxei o ar com força, como se o pesadelo fosse real. Sentei. Abri os olhos e vi tudo dobrado e embaçado. Fechei-os novamente. Era preciso forçar a respiração ou então meus pulmões se vingavam provocando fisgadas. Permaneci assim até que minha respiração se normalizou. Aos poucos fui abrindo os olhos e confuso encarei a floresta a minha volta.
- Onde... – Minha voz saiu fraca, assim como um sussurro.
Apoiei as mãos na terra meio úmida e forcei-me a levantar. Meu corpo protestou. Senti uma fisgada na parte de trás da minha cabeça tão forte que precisei parar qualquer movimento para não desmaiar.
Depois que minha visão voltou ao normal encarei minhas roupas. Um uniforme negro. Calça jeans rasgada nas pernas, camiseta e uma camisa aberta, tênis totalmente negros. Passei a língua nos lábios. Estavam rachados. Tranquei a respiração e fiquei de pé.
- Droga...
A passos quase que cegos, andei um pouco me apoiando em cada árvore que encontrava. Não conseguia entender por que minhas roupas estavam sujas ou por que minha cabeça doía tanto ou muito menos onde eu estava. Quando sai da cobertura das árvores, me vi em uma espécie de colina e havia uma garota sentada na grama. Minhas pernas fraquejaram e eu cai de joelhos no chão. Levei a mão até a parte de trás da cabeça e senti algo molhado e pegajoso. Era sangue.
O caos. Já parou para pensar um pouco sobre isso? Esse conceito muitas vezes associado à desordem ou até mesmo à destruição, propriamente dita... O que efetivamente quer dizer? Vejamos então. Um reles desarranjo, um simples desalinho nos padrões aceitos como normais. Isso é chamado de caos. Ao menos, pelas pessoas meramente convencionais. Mas a questão é que, se os indivíduos que enxergam esse desarranjo como algo ruim são, no mínimo hipócritas, qual seria o verdadeiro propósito do caos? Ou melhor, qual seria o seu significado? Manter, modificar ou destruir? O conceito de normalidade se transforma com o passar dos tempos, ele progride. O anormal, de acordo com a situação, torna-se perfeitamente normal. E assim, o futuro desmancha o passado. Dessa maneira, sempre que necessário, surgem os agentes do caos. Aqueles que agem de acordo com sua vontade, sem limitar-se às regras, sem importar-se com o que é convencional ou não. Mas perante os olhos inconvenientes da massa, eles são vistos como anarquistas duma utopia fantasiada pela manipulação dos mais fracos. Para mudar esse mundo, cá entre nós, fantasias não bastam. Precisa-se de atitude, que é a pouca distância entre os sonhos e a conquista. Mas toda ação requer uma consequência, como bem se é sabido. E o pequeno passo que se dá em direção ao caos, meus caros, chama-se loucura. Sempre à companhia convenienciosíssima do caos. Essa é a questão.
A fumaça vazava pelos lábios róseos. Era densa e espessa, puramente feita de tabaco. Carregava um cheiro exageradamente forte consigo, que chega à ser desagradável para algumas pessoas. Ela dançava sorrateiramente por seu rosto apático até subir e somente então, desaparecer em meio ao sopro dos ventos. E todas as vezes em que seus pulmões castigados esvaziavam-se daquela fumaça, ela tragava o enrolado. Voltando seus olhos para a escuridão, ouviu um farfalhar de folhas, seguido de um baque surdo. Ela franziu o cenho, apagando o cigarro assim que virou o rosto pra trás, tentando imaginar o motivo que proporcionou aquele som. Viu algo mover-se na escuridão. Foi quando ela se levantou, rumando até o local onde pensou ter ouvido o som.
A filha de Érebo arfou quando seus olhos visualizaram um rapaz ajoelhado sob a grama úmida, com uma expressão surpresa. Sem muito pensar, ela aproximou-se do desconhecido, ajoelhando-se ao seu lado. Não queria assustá-lo, pois sabia que, uma vez feito isso, ele não poderia lhe contar o motivo de seu olhar perdido. Ela pigarreou baixinho, deixando que ele a notasse ali.
- Olá, sou Allyria. Você..precisa de ajuda? Está com um olhar..-deixou a frase morrer, observando-o com um semblante preocupado.
Era sangue. Havia um corte logo, do comprimento do meu dedo indicador na parte de trás da minha cabeça. Eu havia caído? Sofri um acidente? Espera... Por que não consigo me lembrar do que aconteceu? Droga, minha visão está ficando embaçada de novo. Forcei os olhos a ficarem fechados, enquanto meus dedos se entrelaçavam na grama e a apertavam como se estivesse tentando fazer a dor passar para a terra.
Um pigarreio baixo seguido de uma voz que com suavidade disse: “Olá, sou Allyria. Você... Precisa de ajuda? Está com um olhar...”. Era uma voz feminina, suave e parecia preocupada. Mas por mais que estivesse quase que carregada de sentimento, não me era de forma alguma familiar. Precisei respirar fundo várias vezes antes de voltar a abrir os olhos e então encarar a dona da voz com nitidez.
- Cabeça... Sangue...
Um murmúrio extremamente lento saiu da minha garganta. Parecia que havia areia na minha boca. Tentei engolir em seco, mas isso só me fez dar uma careta. Eu realmente não conhecia esta garota de camisa laranja. Não sabia onde estava ou como havia parado lá. Arregalei os olhos quando um flash passou em minha mente.
- Quem sou eu?
Sussurrei um pouco mais alto e com certa força na voz, eu estava começando a ficar nervoso. Minhas mãos tremiam em contato com a grama e terra.